sábado, julho 19, 2003

25 DE ABRIL – O FIM OU O PRINCIPIO?


Era um dia de Abril como tantos outros, mais precisamente dia 25, e se não fora a força e a coragem de alguns militares e civis mais sonhadores, hoje não teria o à vontade de escrever sobre aquele que foi um dos dias mais importantes para a história de um País tão pequeno, mas que alguém alucinou que devia ser grande.
Quando começaram a ser mandadas gerações inteiras para defender uma pátria que afinal não era a nossa, poucos eram aqueles que percebiam que se estavam a destruir vários Países e os sonhos de rapazes que com dezoito anos se viam obrigados a abandonar todo o pouco que tinham construído e desejavam pelo menos tentar construir. Mas não, muitos deixaram mulheres, filhos e outros deixaram quem mais amavam com a promessa de que iam ficar bem e que um dia voltariam. Mas esse dia para tantas famílias nunca mais chegou, pelo contrário, os anos passavam e era mais um que partia, e para os que chegavam nada era como dantes: os amigos tinham morrido, os ideais destruídos, mataram e viram morrer, mas não precisavam passar por isso, eram pesadelos e angústias a mais para adolescentes que só, e repito só, queriam ser livres.
Foi então que algumas pessoas mais sensíveis ao sofrimento, se começavam a aperceber que em Portugal não se vivia, sobrevivia a um regime ditador em que os de cima cada dia que passava estavam mais altos, e os de baixo já estavam no fundo do poço, um poço que à muito tinha secado, mesmo para aqueles que encontravam uma gota de água onde só existiam pedregulhos. Não contestes, não refiles, quantas e quantas vezes não ouviram esta frase, tão simples e que nada diz a alguns de nós que hoje somos livres, tanto contestamos e tanto refilamos, às vezes sem saber bem porquê. Mas se pensarmos, foi porque pessoas que em 1974 deviam ter mais ou menos a idade que eu tenho hoje, e que um dia com a ajuda de algumas altas patentes do exército um pouco mais contestatárias , deixaram que os soldados saíssem à rua e todos juntos, acabassem com o tal regime ditador e com uma guerra chamada de ultramar.
Foi então que de repente todos lutavam por um País livre, todos regressaram a casa, até os retornados que lhes tinha sido dada a terra prometida e uma vida melhor, acabaram por a perder, nesse dia todas as famílias se abrasavam, todos eram portugueses, todos eram iguais, e mais importante, todos eram livres, até para cometerem alguns excessos, quase normais em dias de festa e euforia.
Os de cima, que poucas vezes olhavam para baixo e costumavam beber vinho, quando se lembraram que o vinho também era feito com água e repararam que daquele poço nada tinham para tirar, enfim viram-se à mesma altura e como sem água ninguém vive, então foram à procura de outros poços em que a água não tivesse secado. A partir daquele dia todos queriam fazer vinho, alguns deram a água, outros as uvas, e quem bebia o vinho pagava a quem lhe proporcionava aquele pequeno prazer, e assim todos puderiam enfim beber vinho.
Porém, os anos foram passando, os portugueses foram bebendo vinho, mas a liberdade ainda vai sendo adquirida aos poucos dia após dia, por aqueles que ainda não a conseguem ver. A liberdade não é um bem adquirido, a qualquer momento podemos perdê-la.


Susana Ribeiro
01/05/01