quarta-feira, novembro 16, 2005

The Rhetorics of Life-Writing in Early Modern Europe

The Rhetorics of Life-Writing in Early Modern Europe
Of Biography from Cassandra Fedele to Louis XIV
Edited by Thomas F. Mayer and D. R. Wool
(estudo efectuado à primeira parte do livro - Cap. 1 ao 7)

Introdução

O ponto de partida deste livro é uma visão tradicional sobre o tema. No renascimento ocorreu «um desabrochar do indivíduo», o fenómeno da ascensão da biografia. Podemos encontrar biografias em todas as épocas e países, em muitas culturas e períodos. No entanto, quando lemos as biografias do Renascimento, ao invés de apenas as consultarmos em busca de informações ou citações, é difícil evitar uma sensação de desconforto gerado pela frustração das nossas expectativas. Essas biografias não são biografias no sentido que damos ao termo. Elas não discutem o desenvolvimento da personalidade, frequentemente ignoram a cronologia e em geral introduzem materiais aparentemente irrelevantes, dando uma impressão de ausência de forma. A vida de Dante por Boccaccio, por exemplo, foi criticada por um estudioso por estar «sub carregada de anedotas».
O que mais desconcerta o leitor é que esses textos estão repletos de ‘topoi’, anedotas sobre uma pessoa já contadas sobre outras pessoas. Niccolo Valori contou histórias sobre Lorenzo de Medici que no mínimo lembram Suetonio e as suas vidas dos Césares. Vasari conta histórias de pinturas de Piero della Francesca, por exemplo, equivocadamente tomadas como sendo reais, historias que são paráfrases de anedotas sobre antigos pintores gregos contadas por Plínio na sua ‘Historia Natural’.
Os historiadores ficam desconcertados quando manuseiam esses textos do passado, mas certamente deveriam evitar a tentação de desprezar os seus autores como incompetentes.
Desde Burckhardt, foram relativamente poucos os estudos feitos sobre a biografia renascentista, por oposição à autobiografia e isso, apesar do facto de certos textos de período, especialmente as colecções de biografias escritas por Bisticci e Giovio Varasi, terem sido usadas inumeráveis vezes como “fontes”. De qualquer forma, esse período histórico testemunhou um perceptível aumento do interesse tanto pela escrita quanto pela leitura de biografias, primeiro na Itália e depois noutros países.
A parte Italiana da história é mais conhecida. Tal como em outros campos do renascimento, o ponto de partida evidente é Petrarca, neste caso com a sua colecção de vidas de romanos famosos, ‘De viris illustribus’. Depois veio Boccaccio, com a sua colecção de vidas de mulheres famosas, ’De claris mulieribus’ e as vidas individuais de Dante e Petrarca. No século XV, as colecções de vidas incluíram ‘De viris illustribus’ de Fazio, ‘Vitae Pontificum’ de Platina, as memórias de Vespasiano sobre os homens famosos que conheceu e o livro de Foresi sobre mulheres famosas incluindo as humanistas Isotta Nogarola e Cassandra Fedele. Houve ainda biografias individuais: o humanista Leonardo Bruni escreveu sobre Platão e Giannozzo Manetti sobre Sócrates e Séneca. Entre os contemporâneos cujas vidas foram narradas individualmente figuram NicolauV, Alfonso de Aragão, Filippo Maria Visconti, Cosimo de Medici, o arquitecto Brumelleschi, o humanista Pomponio Leto e o ‘Condottiere’ Braccio da Montone.
Na Itália do século XVI, a biografia tornou-se um componente ainda mais importante da paisagem cultural. Hoje em dia, muitas pessoas lembram-se principalmente das vidas de artistas escritas por Vasari, mas os contemporâneos preferiam as biografias de soldados e sultães escritas por Giovio, seguidas das mulheres retratadas por Betussi, que actualizaram Boccaccio ao incluir Isabella D’este e Margarida de Navarra. As biografias individuais escritas nesse período incluem as de Corsi sobre Ficino, de Maquiavel sobre Castriccio Castracani, de Sansovino sobre Boccaccio, de Giovio sobre Leão X, de Condivi sobre Miguel Ângelo e de Pigna sobre Aristo. Por essa altura, o género biográfico estava crescendo rapidamente também fora da Itália.
Algumas Colecções de biografias tinham um objectivo didáctico: não apenas a vida dos santos, mas também as vidas de artistas por Varasi.
Embora algumas biografias tivessem organização cronológica, como no caso das vidas de More por Roper e de Calvino por Beza, a estrutura normal era temática ou tópica. Assim, o Dante de Boccaccio vai da vida para a poesia e da poesia para anedotas sobre a pessoa. A biografia de Erasmus por Beathus Rhenanus preocupa-se com a vida, a fama, os livros, a morte, a aparência e a personalidade do herói. A organização da ‘Vidas’ de Vasari segue um padrão geral de escrever origens, formação, trabalho, alunos, personalidade e epitáfio funerário.
Profecias sobre a grandeza futura do herói são um tema recorrente nas biografias renascentistas, tal como nas vidas dos santos medievais ou dos grandes homens da antiguidade. Plutarco citava o comentário de Cipião sobre a carreira futura de Mário e a visão que a ama de Cícero teve a respeito do futuro da criança. Da mesma forma, Boccaccio conta a história dos sonhos da mãe de Dante. A vida de More por Roper regista a referência do cardeal Morton a “essa criança” que “será um homem maravilhoso” Varasi cita o mestre de Miguel Ângelo, Domenico Ghirlandaio, que teria dito: “este menino sabe mais do que eu” e contam numa biografia atrás da outra, histórias de crianças que já mostravam sinais das suas futuras habilidades artísticas.
Como nos livros de chistes e nas novelas, há uma abundância de anedotas nas biografias escritas nessa época e o seu objectivo era revelar dados sobre a personalidade dos biógrafos. Roper conta a história de como More brincava diante da sua própria execusão. Varasi descreve como Donatello não se importava com dinheiro.
Nas ‘Vidas’ de Vasari o dialogo tem um papel importante, como no caso da famosa resposta de Miguel Ângelo à pergunta do Papa sobre quando ficaria pronta a Capela Sistina: “Quando eu puder”. A vida de More por Roper cita um bom número de frases, algumas das quais ficaram famosas, como a que disse para o seu executor: “Faça um bom serviço enviando-me lá para cima, pois na descida eu mesmo cuidarei de mim”. Em alguns casos, o diálogo é tão importante que se transforma no que podemos considerar um subgénero da biografia. Esse formato biográfico estava a poucos passos das colectâneas de frase ou das “conversas à mesa” de Lutero, ou dos textos estudiosos como J. J. Scaliger e John Selden.
Mas o que era exactamente a biografia? A esta altura é impossível uma abordagem filológica. No entanto, a ideia de uma visão “escrita” pode ser encontrada na Idade Média. O termo ‘biographia’ foi cunhado na Grécia no fim do período antigo. Além disso, falava-se em escrever “Vidas”. Na biografia de Alexandre O Grande, Plutarco faz uma distinção importante entre narrativa e escrever “vidas”, como ele mesmo fazia. Nas “vidas” havia espaço para abordar tanto a esfera privada quanto a pública, para descrever a personalidade individual através de pequenas pistas, “algo pequeno como uma frase ou um chiste”.
A distinção feita por Plutarco entre história e biografia foi frequentemente reafirmada nesse período. Em 1451, Bartolommeo Facio invocou a distinção de Plutarco numa carta em que descrevia o livro que estava a escrever sobre Alfonso de Aragão. Ela foi invocada novamente por Amyot no prefácio da sua tradução, explicando que a história se ocupa dos feitos dos homens, enquanto a função da biografia é esclarecer “leur dits et les moeurs”. Montaigne bateu na mesma tecla ao defender Plutarco contra os seus críticos, elogiando-o por se preocupar com a vida interior, ao invés de se voltar para o acidente dos eventos extremos. Montaigne também enfatizou a afirmação de Plutarco de que gestos aparentemente banais oferecem pistas sobre a personalidade.

1

«Paolo Giovio and the rethoric of individuality»
T.C. Price Zimmermann

Na Primeira edição de “Lifes of illustrations Men” Giovio considera que a frase chave era ‘a somewhat free style’. Giovio era um revivalista de Plutarco, como extensão da tradição humanista renascentista e da biografia histórica. Nomeadamente na vida de Muzio Attendolo Sforza, Giovio indicou alguns dos maiores exemplos da tradição que ele seguia, nos seus escritos sobre papas - em vez que criar uma interpretação coerente de vidas individuais, baseadas em características internas - tal como o modelo Plutarco. A biografia humanista deixa assuntos definidos através do contexto onde estão inseridos, resumindo as características pessoais. Em Plutarco as características eram delineadas no início da biografia com sinais que nos eram dados e desenvolvidas através de assuntos amadurecidos posteriormente. Os humanistas viram a biografia como algo independente da história fazendo distinções entre elas mas, por outro lado, umbilicalmente ligadas.
As maiores biografias de Giovio podem-se considerar históricas quanto ao formato apresentado e todas elas apresentavam uma tradição humanista. Algumas delas não só continham informação que contribuía para a história da época como também eram baseadas em factos históricos. No entanto, todas continham demasiadas análises de carácter.
A implícita presunção do humanismo histórico teve identidade entre o texto e a vida, dado os biógrafos modernos considerarem a escrita de vidas uma ramificação da própria vida. O termo biografia veio a ser reconhecido tempos mais tarde com Mayer e Woolf.
A definição que Cícero deu a história em ‘De Oratore’ formou o paradigma da historiografia humanista, por não dizer só a verdade, mas toda a verdade. Esta foi parte da convenção formal para escritos históricos. A única diferença entre biografia histórica e mentira histórica consiste na ausência de obrigações do biógrafo, no sentido de dizer toda verdade e poder apagar material desfavorável. Esta teoria era criticada por alguns biógrafos.
O ponto mais marcante das biografias de Giovio foi a vida de Leo x. A extravagância, a crueldade, o engrandecimento da família e a infâmia dos seus amores por jovens nobres bem parecidos estão presentes nesta obra. A sua maior contribuição para a cultura renascentista está no seu museu e colecção de vidas.
Os critérios de selecção que Giovio utilizava, nomeadamente em ‘Elogia’eram um estudo neles próprios mas na generalidade reflectem a moral filosófica Ciceroniana e Senecaniana do humanismo tradicional. A versão original de ‘Elogia’ foi escrita à sua morte través de um retrato que ele possuía da vida. Entendida por Giovio como um retrato de palavras a juntar aos retratos acima delas na expectativa da plenitude da palavra se converter numa imagem completa da realidade individual.
A palavra final deve ser entregue à alternativa biografia popularizada por Giovio – A ‘Impresa’. Esta foi um fenómeno do renascimento e contém alguma cultura da filosofia de vida.

2

Giorgio Vasari’s «Vita di Michelangelo Buonarroti» and the shade of Donatello
Barbara J. Watts

A vida do pintor, escultor e arquitecto teve a primeira publicação em 1550 e foi revista e republicada em 1568. Em ‘Vidas’, Vasari defende que a vida dos artistas é comparável com as próprias obras. Na segunda edição de ‘Vidas’ Vasari demonstra esta afirmação com imagens e palavras.
Vasari foi também influenciado pela teoria clássica das biografias. Ambas, tanto a organização do texto como a estrutura individual da vida sugerem uma cuidadosa mistura dos modelos contemporâneos e antigos. Tanto a biografia Plutarciana como a Varasiana juntam os assuntos pessoais e artísticos. Esta organização está estruturada não só nas características artísticas como na carreira profissional. Ainda como Plutarco ou mais recentemente Giovio, Varasi inclui anedotas que têm a ver com a personalidade. Enquanto escrevia ‘Vidas’, Varasi procurou o modelo medieval, da mesma forma que o clássico e o contemporâneo.
A vida de Michelangelo foi a última biografia da primeira edição de ‘Vidas’ para poder representar a história do progresso artístico. Nesta biografia era mencionado Donatello e a enorme divida que Michelangelo tem para com ele. Donatello está presente nos seus subtextos e Varasi continua-lhe a chamar a sombra de Michelangelo, o pai artístico. Quando a vida de Michelangelo é lida no contexto de Donatello, uma complexa dialéctica emerge no meio dos dois artistas que reaviva Donatello.
As analogias entre as vidas de Michelangelo e Donatello são muitas. Algumas reflectem a identidade artística, mas quando as duas vidas são entendidas desde a perspectiva das suas semelhanças, as diferenças entre eles tornam-se significativas.
A importância da imitação artística é um tema recorrente em Varasi. Este modelo normalmente segue a fórmula de uma longa tradição literária. Quando ele consequentemente foi para Florença e viu os trabalhos de Leonardo Da Vinci e Michelangelo, apercebeu-se das suas deficiências e estudou os trabalhos intensamente.
Varasi voltou-se depois para a escultura. Este descreve três esculturas de Michelangelo. Juntas criam uma imagem da sua singular habilidade e ambição. Ao princípio da biografia de Donatello, Varasi começou por apresenta-lo e depois passou a falar de toda a importância da sua escultura.
Uma vez apresentadas todas as diferenças no temperamento, Varasi caracteriza Donatello e Michelangelo como semelhantes na sua natureza, valores sociais bem como moralmente. Se Donatello personifica a generosidade, Michelangelo representa a encarnação de ‘Caritas’. Tal como Donatello, Michelangelo estendeu-se aos seus seguidores. Donatello deu o seu trabalho após a morte enquanto que Michelangelo o deu ainda em vida.
Finalmente Varasi afirmou o fantástico empenho de Michelangelo aquando da construção da basílica de S. Pedro. Donatello por sua vez fez um tabernáculo no velho S. Pedro.

3

Burying the Brethren: Lutheran Funeral Sermons as Life-Writing
Robert Kolg


“Os exemplos têm mais poder do que as regras” – afirmação de Lorenz Mathesius. Segundo ele, os exemplos são importantes conselhos de ensinamentos para os valores cristãos e uma forma fundamental de comunicar algumas dessas verdades. Registar o passado como espelho da actividade de Deus – do conflito entre Deus e o Diabo, entre a verdade de Deus e a mentira de Satanás, foi importante para os seguidores de Luther e Melanchthon. A mensagem de Luther foca-se na acção de Deus e no controlo da acção humana. Alguns dos seus alunos compuseram pequenos, grandes momentos da vida de Luther. Esta composição foi realizada através de uma reflexão sobre os elementos da era Medieval e também da retórica da nova humanidade. Joachim Camerarius escreveu um texto humanista sobre a vida de Melanchthon, algo polémico que ia contra a linha de pensamento de Luther. Mas a par destes dois heróis de fé, German Lutheran celebra sermões e orações para funerais. Neste campo podemos observar a utilização de um elemento importante de Melanchthon, pioneiro no trabalho sobre retórica, a reunião de exemplos. Nos sermões dos funerais eles estão mais preocupados em transmitir e provocar um sentimento de pena, do que propriamente focar os detalhes da biografia da pessoa em causa. Nas mensagens dos funerais podemos encontrar temas em comum: a consolidação dos sobreviventes, concelhos sobre o modo de vida, a ressurreição como esperança para os crentes, entre outros. Também utilizam os sermões para construir uma imagem sobre o estrato social Evangélico e para demonstrar o uso correcto deste trabalho.
No fim do século XVI German Lutheran desenvolveu imagens sobre os ideais da vida Cristã nos seus sermões falando sobre os antigos santos e mártires da igreja.
As mensagens de Lutheran sobre os pastores normalmente focam o sofrimento por qual eles passaram em combater os inimigos no mundo de Deus e nas maneiras que cada Deus lhes transmitiu força para os manter nessas lutas; e faz o uso de textos bíblicos como espelho da vida. Neste caso, os textos bíblicos, servem para cultivar uma melhor compreensão sobre o trabalho clerical e a vida cristã. Com o objectivo de criar um sentimento de pena e percepção dos ouvintes os oradores construíram uma estrutura de trabalho para captarem a realidade do texto, de forma a educar melhor as pessoas na congregação. Melanchthon e Luther começaram a moldar o modo como endereçar o funeral para cultivar a pena. Das suas sugestões, os seus seguidores empregaram as ferramentas humanistas, para proclamar a providência de Deus e a prática humana de virtude e vocação como adicional do seu programa.

4

“With friends like this…”: The biography of Philip Melanchthon by Joachim Camerarius
Timothy J. Wengert

Em 1566 Joachim Camerarius publicou, em Leipzig, a biografia de Philip Melanchthon, uma das mais influentes biografias deste tempo. Esta biografia influenciou os seus leitores uma vez que Camerarius a escreveu, descrevendo a vida de alguém com o estatuto de Melanchthon. Esta biografia retrata uma atmosfera de batalhas teológicas intra-luteranas e discussões sobre o papel de Melanchthon na teologia. Como este é o seu primeiro trabalho, continua a exercer uma tremenda influencia na sua vida.
Os biógrafos, que respeitaram quer o género retorico quer o lado polémico deste trabalho, aceitaram bem criticar o carácter de Melanchthon, retratado por Camerarius. Aliás, transformaram esta narrativa num mito. Apesar de haver a noção que as biografias do século XVI possuem um carácter retórico, o facto é que, mais tarde muitos historiadores ignoraram essa noção. Uma vez instalada uma ideia necessita de realização, não só por parte das fontes dos historiadores, mas também pela dependência dos historiadores pela narrativa e mito. Uma das partes mais fascinantes do mundo da história é o modo como cada geração adequa os textos e respectivos significados.
Depois de receber o seu mestrado em Artes, Camerarius foi para Wittenberg para estudar com o homem que viria a ser o seu correspondente e amigo para toda vida – Philip Melanchthon. Com a recomendação de Melanchthon, Camerarius tornou-se professor de grego e histórias latinas, no Gymnasium, em Nuremberg. As suas publicações incluíam trabalhos teológicos e ensaios pedagógicos. Estes trabalhos tipificam a escrita renascentista e a forma de retratar a vida. Aliás, imitam o próprio trabalho de Melanchthon. Este, por sua vez, era muito conhecido pela sua escrita fúnebre, utilizava muito textos em prosa e com categorias do humanismo germânico para descrever Lutero. Camerarius publicou um livro sobre retórica – ‘Elementa Rhetoricae’, onde a menção da morte de ocupa por vezes paginas inteiras. As principais categorias utilizadas por Camerarius são as ‘Pietas’, ‘Virtus’ e ‘Doctrina’.
Camerarius investigou a personalidade de Melanchthon com a convicção de que os tratos na infância determinam o nosso comportamento futuro. Tenta equilibrar os defeitos com as virtudes, embora as virtudes se destaquem sempre.
Para Camerarius a biografia de Melanchthon foi muito mais do que um exercício retórico, foi também um ataque polémico. Camerarius menciona alguns dos principais opositores de Melanchthon. Mathias Placius Illyricus foi o maior opositor. Camararius entende que algumas pessoas atacavam Melanchthon no sentido de manchar o nome dele e distorcerem o que ele dizia, Mas deixa claro que isto aconteceu devido à controvérsia do reino de Deus. Camararius usou a melhor arma para defender Melanchthon, a retórica. O ponto fulcral da narrativa de Camararius só se desvenda ao final, depois de descrever o péssimo comportamento dos opositores de Melanchthon.
Os historiadores Luteranos pegaram nas imagens polémicas e retóricas que Camerarius tinha utilizado para defender Melanchthon, e usaram-nas tornando-as em mitos. Transformaram a relação entre Lutero e Melanchthon em amizade. Alguns acreditaram de tal forma na amizade deles que construíram teorias para justificar as separações, as viagens e as tenções dentro da amizade. A biografia de Camerarius foi tão bem sucedida que passou a integrar parte de autores biográficos e textos sobre a Reforma Luterana.

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Manipulating Reputations: Sir Thomas More, Sir Thomas Elyot and the conclusion of William Roper’s «Life of Sir Thomas More, Knighte»
F. W. Conrad

Uma característica comum, em estudos recentes destas narrativas, tem sido demonstrada com um variante discernimento entre representações históricas contidas numa biografia particular o que pode ser independentemente aprendido sobre uma vida retratada.
William Roper celebrou ‘Life of Sir Thomas More, Knighte’, a biografia do seu famoso sogro era tradicionalmente considerada como justa e aparentemente memorável.
Mais recentemente, foi realçada a selectividade de Roper e a sua consciência artística. Com respeito pela biografia de Roper como histórica, as investigações do Sr. Goeffrey Elton, John Guy, Alistair Fox e Richar Marius expuseram dimensões de evidências vividas por More que não era facilmente reconciliável com a imagem projectada por Roper. Este compôs a sua narrativa biográfica com o texto que More sugere a Roper para investigar.
Um dos capítulos aborda duas questões: Primeiro estabelece que de acordo com os cânones da retórica, da biografia e da história renascentistas, foi considerado um tipo de prosa e os escritores de narrativas biográficas devem incorporar material imaginativo dentro do proprio texto. Em Segundo, identificam uma invenção histórica que constitua a conclusão de ‘The Life of Sir Thomas More, Knighte’ e demonstram que Roper deliberadamente a fabricou.
Por toda a arte e influência histórica, a veracidade de ‘The life of Sir Thomas More, especificamente no último paragrafo, é altamente suspeita.
Os biógrafos renascentistas e reformistas não aspiravam produzir uma verdade objectiva, mas sim escrever com suficiente veracidade que os leitores passam ver os seus trabalhos arranjados.
Ainda referente à conclusão de William Roper e de acordo com a introdução do texto, a conclusão é brilhante. Em vez de se comprometer num extenso relato dos detalhes sobre o tema John Fox, Roper optou por transpor os seus leitores para o campo de Charles V.
Desde que as cartas de Elyot foram escritas depois de More que a possibilidade de uma alegação que não pode ser esquecida. Para as propostas apresentadas pelo autor, o momento crucial em ‘Of the knowledge with Mareth a wise Man’ ocorreu no diálogo de Elyot, quando Aristippus desafiou o seu rival para explicar os benefícios apresentados. Acima de tudo ele quer saber porque que algumas doenças humanas podem ser consideradas providenciais.
Quando analisadas as biografias da idade media, é pior recordar o acesso à critica de Maquiavel ‘Vita di castruccio’ feita por Zanobi Buondelmonti, um dos trabalhos que lhe foi dedicado.

6

Characterizations of the “Obscure Men” of cologne: A study in Pre-Reformation Collective Authorship
James V. Mehl


Na Primavera de 1518, Erasmus escreveu a um humanista seu amigo em Cologne, chamado Johannes Caesarius: O homem que inventou o título ‘Obscurum virorum’deu uma má volta à civilização: Se o título não tiver um conteúdo engraçado, aquelas letras vão continuar a ser lidas em todo lado tal como hoje são lidas em apoio aos dominicanos. Erasmus era constantemente perturbado, em cartas, pelos ataques pessoais ao seu próprio nome. Estas acabaram por ser denunciadas pelo próprio em 1517 alegando que o seu conteúdo satírico tinha mudado. A ideia, de coleccionar cartas satíricas, veio de alguns eventos a favor da causa de Reuchlin. Em Março de 1514 o Bispo de Speyer, que tinha sido responsabilizado pela Cúria Romana também tomou partido desta causa.
A começar em Petrarca, vários humanistas escreveram cartas neolatinas e também as editaram como colecções, no sentido de uma auto-expressão literária e uma forma de atingir a fama. O grande interesse nas cartas em neolatim pode ser traçado desde as ultimas três décadas do século XV. A popularidade e o grande uso de colecções de cartas, especialmente pelos humanistas, foram possíveis através da imprensa. A começar em 1472, verificaram-se numerosas impressões de colecções de cartas de autores da época, como Leonardo Bruni, Enea Sílvio Piccolomini, Giovanni Pico della Mirandola, Ângelo Poliziano e Robert Gaguin.
A evolução desta tendência dos humanistas de considerar as cartas como literatura é uma tendência que continua pelo século XVI onde as cartas se tornaram numa forma dominante.
Hutten reorientou a proposta de cartas satíricas para promover a reforma politica, religiosa e social da Alemanha. Mas em outras cartas, os termos ‘moderni, novi e antiqui’ implica que os humanistas são os autores modernos e os clássicos são os antigos. Os termos ‘obscurus’ e ‘clarus’ eram usados por Reuchlin e os seus seguidores para chamar a atenção para a sua superioridade intelectual em comparação com a estupidez e escuridão dos escolásticos.
A caracterização satirical e o humor burlesco das cartas apelavam a uma completa variedade de autores e leitores durante o século XVI e os séculos seguintes. O ‘Viri obscuri’ serviu de modelo para os ataques satíricos da literatura da nova reforma, como pode ser visto em ‘Eccius dedolatus’.
O sucesso literário de ‘Epistolae obscurorum virorum foi dúbio numa grande parte, a única mistura de elementos estilisticamente retóricos é o que os autores humanistas empregaram para encontrar as suas especificas sátiras e polémicas opiniões no contexto da controvérsia de Reuchlin, mas eles também seleccionaram uma das mais populares formas durante o século XVI – A colecção de cartas impressas – como veículo para as sátiras.

7

Cassandra Fedele’s Epistolae (1488 – 1521): Biography as
Ef-facement
Diana Robin


Para começar a autora quer mostrar que existe uma distância significativa entre a sua maneira de pensar em relação às biografias e os outros autores do livro, os quais introduzem uma dicotomia entre vida e texto.
A documentação sobre Cassandra Fedele é dispersa. Há alguns dados sobre o sítio onde viveu, uma cópia provavelmente em suas mãos, mas não há nenhum documento sobre o seu nascimento ou casamento. Em 1558 quase não haviam factos sobre a vida de Fedele. Supostamente ela nasceu em 1465 em Veneza, mas alguma documentação afirma que a data do seu nascimento foi em 1456. Respectivamente o seu contemporâneo Baldesar Castiglione defende que ela veio com a sua família da corte mas o que os Fedele realmente eram, continua a ser um mistério. Aos seus 20 anos Fedele representou-se a si própria nas suas cartas com o objectivo de apelar para a atenção da nobreza e da realeza. Ela recebeu convites de leitura por parte de Marco Barbarigo, da Rainha Isabel e do Rei Fernando de Espanha.
No último quarto do século XV em Itália, algumas mulheres juntaram-se ao grupo de defensoras do humanismo. Quase todas as mulheres que se tornaram activas como humanistas eram membros de quatro famílias nobres o que era no renascimento o centro da literatura e da actividade artística.
O que é muito diferente nos livros de cartas de mulheres humanistas em relação a Fedele – ‘Epistolae’ – é o estilo latino e a sua construção, ambos, nas suas cartas e nos seus admiradores nota-se que não é feminino nem masculino o sentido convencional, ainda que o sentido feminino lhe desse leitoras, no entanto este era saturado com a sexualidade e preconceitos em relação ao género. A conexão entre escrita e sexo era um costume usado desde a antiguidade da poesia latina desde o primeiro século até ao renascimento.
Outro ponto significativo para as mulheres encontrado pelos escritores no renascimento, de Boccaccio para Castiglione, é a insuficiência física do corpo feminino. A doença, a falta de força e a robustez define a voz feminina, o que acentua uma marca deficitária para as mulheres em relação ao sexo como castradora.
O terceiro maior tema emerge nas cartas de Fedele em relação à ambiguidade da sexualidade e confusão em relação ao seu género. Como a autora sugere antes, escrever e feminilidade não era considerada compatível no renascimento. Era Fedele um homem ou uma mulher? Numa carta do duque de Milão, ela própria sugere que certamente Venetians a enviaram porque ela é «um novo homem». O termo romano para homens proeminentes.
Se pudermos generalizar as representações da pessoa Cassandra Fedele no seu ‘Epistolae’, uma autobiografia de uma mulher humanista pode ser privativo. Pode ser acordado com a prescrição de Castiglione e a descrição de homem.