quarta-feira, julho 30, 2003

Tendências do Jornalismo Contemporâneo

COMENTÁRIO

Se considerarmos a palavra público no seu conceito mais simples e generalista, estaremos a referirnos a algo pertencente ou relativo ao povo, que se faz diante de todos. Nesse sentido, existe uma acção por parte dos media para conseguir abranger todos os receptores possíveis.
Certamente que será esta a forma mais básica de abordar as relações entre emissores e receptores. O público é informado e influenciado por aquilo que lê e vê nos meios de comunicação. É certo que esta predisposição para a influência é mais notória por parte daqueles que não possuem uma opinião própria. O resultado final, é que muitas vezes a repartição da opinião pública se regula pela opinião reproduzida pelos meios de comunicação e se adapta a ela, segundo um esquema de conjecturas que se autoverificam.
Segundo McClure e Patterson, e depois de fazerem uma pesquisa sobre os efeitos do agenda-setting, concluem que a influencia causada nos receptores está condicionada pelas anteriores disposições dos leitores que são os destinatários das mensagens. Por outro lado, Shaw afirma não só que a pesquisa sobre o agenda-setting reconhece que os atributos psicológicos e sociais dos eleitores determinam a utilização política que eles fazem dos mass media - isto já no campo da propaganda - mas também que o agenda-setting reconhece a importância dos contactos interpessoais na determinação do imposto definitivo, do conteúdo dos mass media sobre o público. O agenda-setting utiliza os factores interpessoais para ajudar a explicar as condições em que os efeitos de agenda-setting são mais pronunciados.
Estamos perante um aspecto delicado. Por um lado, existe a vontade de inserir a problemática mais tradicional sobre os efeitos - percepção, exposição, memorização selectivas – explicitando a sua complementaridade; Por outro lado, existe também a dificuldade de construir uma teoria, sobre efeitos puramente cognitivos. Neste sentido, a teoria da dissonância cognitiva (Festinger, 1957) afirma que a presença simultânea de conhecimentos contraditórios entre si e dissonantes produz discordância cognitiva, o que provoca no próprio indivíduo uma motivação para eliminar essa discordância, de forma a criar um estado de equilíbrio. Entre as componentes contraditórias, tende-se a eliminar ou a transformar a menos central, a menos relevante para o indivíduo, ou a menos geral.
A hipótese do agenda-setting defende que os mass media são eficazes na construção da imagem da realidade que o sujeito vem estruturando. Essa imagem – que é simplesmente uma metáfora que representa a totalidade da informação sobre o mundo que cada indivíduo tratou, organizou e acumulou – pode ser pensada como um standard em relação ao qual a nova informação para lhe conferir o seu significado. Esse standard inclui o quadro de referências e necessidades, crenças e expectativas que influenciam aquilo que o destinatário retira de uma situação cognitiva. Neste sentido, a formação da agenda do público vem a ser o resultado de algo muito mais complexo do que a «mera» estruturação de uma ordem do dia de temas e problemas por parte dos mass media.
Como consequência, o estudo do emissor é imprescindível, uma vez que ocupa uma posição fundamental num tecido social, com a possibilidade de recusar e de seleccionar a informação em consonância com a gama de depressões que se exercem num determinado sistema social. Paralelamente à consolidação da centralidade social dos mass media e à mudança, lenta e não definitiva, da teoria comunicativa, o estudo dos emissores evolui, passando de alguns conceitos simples para articulações mais complexas entre variáveis que não dizem respeito à produtividade interna dos mass media. Esta evolução é caracterizada segundo duas abordagens; A primeira estudou os emissores sob o ponto de vista das suas características sociológicas, dos standards de carreira que eles seguem e dos processos de socialização a que estão sujeitos. Por exemplo, os produtores têm autoridade plena sobre os encenadores e os actores, no que diz respeito à realização, as suas decisões são, pelo contrário, subordinadas aos dirigentes dos network para quem os programas são produzidos e que, por sua vez, estão naturalmente vinculados às exigências dos patrocinadores e dos índices de audição. A segunda abordagem analisa a lógica dos processos pelos quais a comunicação de massa é produzida e o tipo de organização do trabalho dentro da qual se efectua a construção das mensagens. Tais determinações parecem decisivas quanto ao produto acabado.
Desta forma, e interiorizando estes conceitos podemos ter uma ideia de como os media imaginam o público e não o contrário, como à primeira vista nos parece mais evidente. Cria-se assim uma relação em que não se pode determinar quem se impõe a quem, mas só esse facto, levanta mais algumas questões que podem dar a resposta a Pierre Sorlin.