Este texto foi publicado no passado dia 16 de Abril pelo jornal O Primeiro de Janeiro
Santa Casa da Misericórdia de Constância
A constante misericórdia
“Pessoalmente, acho um bocado descabidas algumas exigências, quando há falta de camas no concelho para idosos, criando assim hotéis de luxo". É com esta frase que Vasco Botelho de Souza, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Constância, explica algumas normas exigidas a quem tenta oferecer algum do conforto e atenção a que todos têm direito.
A fundação das Misericórdias teve início fez agora 500 anos, por iniciativa de D. Leonor de Lencastre, irmã do Rei D. Manuel I. Nesse ano foi criada a de Lisboa e, no século seguinte, multiplicaram-se por todo o país instituições congéneres, seguindo o modelo de compromisso da capital. O objectivo principal da sua criação era promover, de forma permanente e organizada, actos de caridade junto dos mais miseráveis e sofredores: indigentes, crianças órfãs ou enjeitadas e sobretudo os doentes mais pobres que muitas vezes morriam à míngua de cuidados básicos de saúde.
A Santa Casa da Misericórdia de Constância, sem excepção, comemora 500 anos de existência. "A partir de 1950, esta Misericórdia teve realmente valências, até lá, limitava-se a apoiar os mais carenciados, mas, não havia, de facto, instalações", sublinha Vasco Botelho de Souza.
A Irmandade da Misericórdia de Punhete foi fundada pelo padre Sebastião Pinheiro em 1560. A sua primeira reunião teve lugar na ermida de S. Sebastião, que havia no sítio do Terreiro, à margem do Zêzere, e a primeira deliberação que tomou foi a de arrendar uma casa para nela funcionar o hospital.
Vinte anos mais tarde, em 1580, a Misericórdia compra o terreno para nele construir a sua igreja e um hospital anexo.
Tal como a antiga matriz de S. Julião, que ficava onde agora é a Praça, por estar em total ruína, teve de ser demolida, também a Igreja da Misericórdia, situada numa cota muito baixa, tem sido, e continua a ser, martirizada pelas cheias do Tejo e do Zêzere, em especial quando são grandes, como aconteceu por diversas vezes, algumas delas há poucos anos ainda. Na sequência da cheia de 1940, ficou de tal modo maltratada que teve de ser retirada do culto e assim esteve quase vinte anos. A reabertura deu-se em 1960, quando a Santa Casa assinalou o seu quarto centenário, depois de realizadas obras de restauro.
Em meados de 1950 surgiu o lar, que na altura era limitado em termos de atendimento e, segundo o provedor da Santa Casa, "esta é uma Misericórdia realmente muito pobre, porque nós não temos outros rendimentos além dos que são gerados por alguns donativos, que os familiares dos utentes nos dão e as dotações da Segurança Social. Para além disso, tínhamos umas casas num bairro social, mas as rendas ainda se mantinham iguais há 50 anos - 175 escudos por cada casa, pelo que optamos por vendê-las aos inquilinos".
As instalações eram limitadas, havia cerca de dez quartos e duas casas-de-banho para 30 utentes. "Nós resolvemos pôr mãos à obra e, através de fundos do PIDAC, com o apoio da Segurança Social fizemos um esforço enorme para conseguirmos fazer face a um investimento de cerca de 80 mil contos. Neste momento, temos dez quartos com casa-de-banho privativa, aquecimento central e tomadas de tv e respeitamos na integra o que nos foi solicitado pela Segurança Social. Pessoalmente, acho um bocado descabidas algumas exigências, quando há falta de camas no concelho para idosos, criando assim hotéis de luxo", explica Botelho de Souza.
Actualmente, a Santa Casa tem três valências: o lar, o centro de dia e o apoio domiciliário. É aqui, na última valência que seria necessária uma expansão nos serviços, mas, “temos duas carrinhas de apoio domiciliário, com cerca de dez anos cada uma, uma delas oferecida pela fundação Kalust Gulbenkien, por isso mesmo, candidatámo-nos em Dezembro, no sentido de nos ser entregue outra carrinha pela fundação e continuamos à espera de uma resposta. No centro de dia temos cinco utentes, número escasso, porque as pessoas não estão muito sensibilizadas para esta área, uma vez que quem é válido para estar num centro de dia também pode fazer da vila que é pequena, esse mesmo centro de dia outras actividades. Em relação ao lar, neste momento, temos 28 utentes que estão distribuídos pelo novo edifício e por duas residências que temos”, acrescenta o provedor.
A Santa Casa aposta no rigor dos cuidados médicos e para tal, a médica de serviço permanente no centro de Saúde de Constância, faz visitas periódicas à Instituição para controlar o estado de saúde dos utentes. Não obstante, quando há necessidade é requisitada uma ambulância dos bombeiros, para transportar as idosas ao hospital de Abrantes que fica a 14 quilómetros.
Projectos futuros
”Pensamos em criar uma creche, uma vez que esta é uma das principais carências de Constância. Neste sentido, já apresentamos um projecto na Segurança Social que apoia neste momento de uma forma preferencial este tipo de valências. Só vamos iniciar a construção daqui a dois anos porque realmente não a podemos fazer antes. Se aparecesse um mecenas, que nos apoiasse financeiramente, podia ser que a fizéssemos já, mas como a realidade não é essa, a creche só será construída daqui a dois anos. Não obstante, a Câmara Municipal já nos apoiou com a oferta de um terreno junto do parque escolar, e com a oferta de outro terreno em Santa Margarida para a construção de um lar, mas este, terá que aguardar mais tempo, porque a Segurança Social não apoia este tipo de infra-estruturas, agora, alegando que há outras prioridades. Não me queria esquecer de referir que bom seria termos o apoio de um mecenas para os nossos projectos. Há gente muito rica no nosso país, que está de alguma forma virada para o mecenato, como é o caso de Belmiro de Azevedo, tanto quanto sei, aposta na recuperação de igrejas antigas, como a nossa igreja da Misericórdia, cujo Altar-Mor, com uma talha impressionante, está de facto a precisar de restauro total. Assim sejamos apoiados, assim levaremos em frente os nossos projectos em prol dos mais carenciados e na manutenção e restauro de monumentos que estando à nossa guarda, não deixam de ser um património de todo o país”, conclui assim Botelho de Souza.
Santa Casa da Misericórdia de Constância
A constante misericórdia
“Pessoalmente, acho um bocado descabidas algumas exigências, quando há falta de camas no concelho para idosos, criando assim hotéis de luxo". É com esta frase que Vasco Botelho de Souza, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Constância, explica algumas normas exigidas a quem tenta oferecer algum do conforto e atenção a que todos têm direito.
A fundação das Misericórdias teve início fez agora 500 anos, por iniciativa de D. Leonor de Lencastre, irmã do Rei D. Manuel I. Nesse ano foi criada a de Lisboa e, no século seguinte, multiplicaram-se por todo o país instituições congéneres, seguindo o modelo de compromisso da capital. O objectivo principal da sua criação era promover, de forma permanente e organizada, actos de caridade junto dos mais miseráveis e sofredores: indigentes, crianças órfãs ou enjeitadas e sobretudo os doentes mais pobres que muitas vezes morriam à míngua de cuidados básicos de saúde.
A Santa Casa da Misericórdia de Constância, sem excepção, comemora 500 anos de existência. "A partir de 1950, esta Misericórdia teve realmente valências, até lá, limitava-se a apoiar os mais carenciados, mas, não havia, de facto, instalações", sublinha Vasco Botelho de Souza.
A Irmandade da Misericórdia de Punhete foi fundada pelo padre Sebastião Pinheiro em 1560. A sua primeira reunião teve lugar na ermida de S. Sebastião, que havia no sítio do Terreiro, à margem do Zêzere, e a primeira deliberação que tomou foi a de arrendar uma casa para nela funcionar o hospital.
Vinte anos mais tarde, em 1580, a Misericórdia compra o terreno para nele construir a sua igreja e um hospital anexo.
Tal como a antiga matriz de S. Julião, que ficava onde agora é a Praça, por estar em total ruína, teve de ser demolida, também a Igreja da Misericórdia, situada numa cota muito baixa, tem sido, e continua a ser, martirizada pelas cheias do Tejo e do Zêzere, em especial quando são grandes, como aconteceu por diversas vezes, algumas delas há poucos anos ainda. Na sequência da cheia de 1940, ficou de tal modo maltratada que teve de ser retirada do culto e assim esteve quase vinte anos. A reabertura deu-se em 1960, quando a Santa Casa assinalou o seu quarto centenário, depois de realizadas obras de restauro.
Em meados de 1950 surgiu o lar, que na altura era limitado em termos de atendimento e, segundo o provedor da Santa Casa, "esta é uma Misericórdia realmente muito pobre, porque nós não temos outros rendimentos além dos que são gerados por alguns donativos, que os familiares dos utentes nos dão e as dotações da Segurança Social. Para além disso, tínhamos umas casas num bairro social, mas as rendas ainda se mantinham iguais há 50 anos - 175 escudos por cada casa, pelo que optamos por vendê-las aos inquilinos".
As instalações eram limitadas, havia cerca de dez quartos e duas casas-de-banho para 30 utentes. "Nós resolvemos pôr mãos à obra e, através de fundos do PIDAC, com o apoio da Segurança Social fizemos um esforço enorme para conseguirmos fazer face a um investimento de cerca de 80 mil contos. Neste momento, temos dez quartos com casa-de-banho privativa, aquecimento central e tomadas de tv e respeitamos na integra o que nos foi solicitado pela Segurança Social. Pessoalmente, acho um bocado descabidas algumas exigências, quando há falta de camas no concelho para idosos, criando assim hotéis de luxo", explica Botelho de Souza.
Actualmente, a Santa Casa tem três valências: o lar, o centro de dia e o apoio domiciliário. É aqui, na última valência que seria necessária uma expansão nos serviços, mas, “temos duas carrinhas de apoio domiciliário, com cerca de dez anos cada uma, uma delas oferecida pela fundação Kalust Gulbenkien, por isso mesmo, candidatámo-nos em Dezembro, no sentido de nos ser entregue outra carrinha pela fundação e continuamos à espera de uma resposta. No centro de dia temos cinco utentes, número escasso, porque as pessoas não estão muito sensibilizadas para esta área, uma vez que quem é válido para estar num centro de dia também pode fazer da vila que é pequena, esse mesmo centro de dia outras actividades. Em relação ao lar, neste momento, temos 28 utentes que estão distribuídos pelo novo edifício e por duas residências que temos”, acrescenta o provedor.
A Santa Casa aposta no rigor dos cuidados médicos e para tal, a médica de serviço permanente no centro de Saúde de Constância, faz visitas periódicas à Instituição para controlar o estado de saúde dos utentes. Não obstante, quando há necessidade é requisitada uma ambulância dos bombeiros, para transportar as idosas ao hospital de Abrantes que fica a 14 quilómetros.
Projectos futuros
”Pensamos em criar uma creche, uma vez que esta é uma das principais carências de Constância. Neste sentido, já apresentamos um projecto na Segurança Social que apoia neste momento de uma forma preferencial este tipo de valências. Só vamos iniciar a construção daqui a dois anos porque realmente não a podemos fazer antes. Se aparecesse um mecenas, que nos apoiasse financeiramente, podia ser que a fizéssemos já, mas como a realidade não é essa, a creche só será construída daqui a dois anos. Não obstante, a Câmara Municipal já nos apoiou com a oferta de um terreno junto do parque escolar, e com a oferta de outro terreno em Santa Margarida para a construção de um lar, mas este, terá que aguardar mais tempo, porque a Segurança Social não apoia este tipo de infra-estruturas, agora, alegando que há outras prioridades. Não me queria esquecer de referir que bom seria termos o apoio de um mecenas para os nossos projectos. Há gente muito rica no nosso país, que está de alguma forma virada para o mecenato, como é o caso de Belmiro de Azevedo, tanto quanto sei, aposta na recuperação de igrejas antigas, como a nossa igreja da Misericórdia, cujo Altar-Mor, com uma talha impressionante, está de facto a precisar de restauro total. Assim sejamos apoiados, assim levaremos em frente os nossos projectos em prol dos mais carenciados e na manutenção e restauro de monumentos que estando à nossa guarda, não deixam de ser um património de todo o país”, conclui assim Botelho de Souza.

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