Devo confessar que me chateia um bocadinho, dos grandes, o facto de ter que ouvir este assunto - todas (as poucas) vezes que me sento para ver televisão. Não é que o assunto nao seja interessante ou que simplesmente não suscite qualquer tipo de interesse na minha pessoa, nao! O cerne da questao aqui centra-se na enorme e profunda tristeza que se apodera de mim quando percebo que em Portugal, um Pais dito Democratico e Laico, ainda se discutem, em praça pública, direitos 'aparentemente' fundamentais, ou simplesmente o direito, tao simples e só, de decidir sobre qual o rumo a dar à vida do seu próprio ser, independentemente duma HIPOTETICA VIDA que pode até vir a existir ou não. O facto de se deixar criar vida em cada um de nós e de ter a responsabilidade de a por num mundo que não é de todo 'cor-de-rosinho', tem que ser SEMPRE um acto planeado e nunca inconsequente, à espera que depois alguma instituicao ou o proprio estado nos ajude a resolver o 'problema'. Todos nós sabemos como é que estas coisas são... todos nós sabemos quantos 'inocentes' estão aí à espera que alguem lhes resolva os problemas, e esses sim, são problemas, e graves em alguns dos casos. Eles são todos resolvidos?!Alguem veio para praça pública discutir se deviamos tomar a 'pilula do dia seguinte' ou não?! O proposito não é o mesmo? Nao estamos nós todos a abortar um processo evolutivo que dará uma vida, quando e se tomarmos essa pilula 'anti-conceptiva'? O ovulo ja não foi fecundado? Cada vez que se tem relações sexuais ficamos a olhar para os espermatozoides dentro do perservativo e interrogamo-nos de que cor seriam os olhos?! Ou estarei eu a fazer algum tipo de confusão e sou do grupo de pessoas com menos moralidade do escalão dos pseudo-moralistas e no fundo o que eu gosto mesmo é de matar criancinhas à hora do lanche, se votar sim?! (Não me parece de todo).Para que serve uma assembleia com maioria absoluta?!De repente lembrei-me que estou em Portugal e que aqui tudo acontece 30 anos mais tarde em relação ao resto do mundo e, então, pensei que já comecava a fazer algum sentido... no entanto, para ser tudo mesmo feito a moda de Portugal, era assim, com estes moldes: Ninguem quer ser responsabilizado, o povo é que decide e eu que fui eleito pelo mesmo povo, vou continuar a fugir com o 'cu à seringa' porque desta forma o meu nome nunca vai ser associado a nada e o responsavel é sempre o ze povinho.E nós povinho, vamo-nos continuar a sentar no sofa impavidos e serenos a assistir em praça pública, pessoas moralmente superiores, ou não, a decidirem se as mulheres portuguesas (algumas delas atrasadas mentais e sem poder de decisao - na ideia deles) devem ser julgadas, por toda gente, em relação ao que fazem na sua privacidade.Só falta mesmo as mulheres portuguesas (essas pecaminosas, fora da lei e moralmente desfavorecidas) comecarem a levar com um 'calhau', mas daqueles muito grandes e pouco polidos, na cabeca e sitios limitrofes para aprenderem a não se meterem com fetos indefesos... essas desgracadas! Então aí qualquer fundamentalismo já existente em qualquer país 'arabe' seria ouro sobre azul... e 'vós povinho', moralmente superior, viveriam felizes para sempre, porque foi-vos dado o 'legitimo' direito de julgar e criticar os moralmente inferiores, que na vossa opinião são merecedores do vosso castigo...
Susana M. Ribeiro